Caipirinha de morango
A caipirinha de morango e seus efeitos. Não existe melhor do que àquela do bar perto de casa, o morango é orgânico e o açúcar é auto glicêmico. Bar que frequento sozinha ou acompanhada, bar que indiscutivelmente tem a melhor caipirinha de morango de todos os tempos.
E, em mais um entardecer, pedi uma dose desse prazer bizantino que alvoroça meus sentidos mais travados.
Fui pela caipirinha, mas fiquei pela ousadia. Quem diria que naquela noite de terça-feira eu faria valer a pena o uso da minha calcinha de renda francesa.
Ele era audaz, nem bonito, nem feio, dentes brilhantes e um pouco tortos, sorriso agudo, voz rouca, pele ardente e uma lábia que há muito estou desacostumada. Mas isso eu também tinha...Ele estava sozinho, eu também, rolou um papo sobre trabalho, gestão e impulsivamente, mudei o assunto e seguimos para a poesia, desejos humanos e sonhos ofuscados.
Falamos sobre poetas desconhecidos por ele, falamos sobre desejos obsoletos e também, falamos sobre vontades exacerbadas. Ele, meio perdido mediante minha exultante respiração, mesmo assim desprendia uma atenção foraz.
Mal recitei um poema, e ele já tocou minha mão (adoro toques de pele e elogios), mal proferira a primeira frase, ele chegou-se mais perto, mal acabei a estrofe, ele me entregou o copo de caipirinha.
Estratégia? Funcionou...
No final da recito, ele, depois de dizer que foi a coisa mais linda dos últimos tempos que tinha escutado, me puxa contra seu peito e me taca um beijo, um beijo desses de cinema com vulnerabilidade e saliência, com tesão e reação, muita reação. E dali, não consegui mais me desvencilhar.
Era mão à deriva, era dedo ousando chegar mais perto, era olhar me despindo com a íris, era a indulgencia do seu corpo me consumindo.
Por um minuto, me senti envergonhada e dei uma olhada de canto para ver se o garçom que sempre me atendia, estava por ali, sim, estava, mas não tinha mais nada que eu pudesse fazer para tentar recuperar minha dignidade.
Passou-se dois minutos e ele arrancou-me dali, abruptamente, entrei nos seu carro e deixei a latência das minhas vontades responderem por mim.
Inicio de primavera, ele se joga no banco do carona e me puxa com uma força descomunal, me prende de uma forma, que não tive alternativa, apenas consenti e segui meus impulsos, como uma gueixa obediente, obedeci...a calcinha de renda francesa, desmaterializou-se em segundos, minhas coxas perderam a força no movimento contraceptivo, suas mãos e meu quadril, formaram naqueles minutos a maior sinfonia clássica da Ópera de Viena... e foi então, que ao tentar me desvincular do seus corpo desnudo, percebi que tínhamos plateia, e mesmo assim, o desejo latejava cada vez mais alto, até que todos os vidros impedissem a visão mesmo do melhor motorista em uma noite de cerração nas Estrada da Serra.
Depois do embaço embaraçoso, desci do carro, peguei minha bolsa e segui a pé para casa, sem olhar para trás. O bar, foi diminuindo a cada passo que eu dava. A vergonha foi deixando se ser rubra e tomando a cor nude.
Mas o desejo continuou, ainda mais ardente, eu já nem estava mais com minhas calcinhas de renda francesa... e sem pensar, mandei uma mensagem: torci meu pé, estou estoque quase em frente à minha casa...você não poderia...?
Dez minutos depois eu estava sendo estrategicamente devorada no sofá da minha sala.
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