Beijo teatral

Fui lá e beijei! Quanto tempo eu não era tão ousada quanto ontem. Mas pelo amor de Deus, o carinha não parava de dar mole, me olhava, ria, piscava, vou fazer o que? Ficar parada, de jeito nenhum, fui para o ataque, chega de esperar a onda virar, se quer é desse jeito e faz favor de dar no jeito. O Pub era legal, muita gente da minha idade (mais de trinta), cheguei empolgadíssima com uns amigos e me atirei na pista de dança. Foi divertidíssimo, e lógico, meus olhos pareciam um radar, olhando para todos os lados vendo se eu "pegava” alguém... E peguei. Não foi um encontro dos sonhos, mas que foi inesquecível, foi. De repente, fiquei paralisada em frente ao palco, o tecladista não parava de me olhar, olhei para o lado, para o outro e constatei, ele de fato estava olhando para mim, dei o troco. Minhas pupilas não desviavam os olhos dele. Ele tocava, cantava, de vez em quando alternava de lugar com o vocalista e sempre sorrindo e me olhando, mesmo parado, me olhava, e me olhava, olhava...até que eu cansei, poxa, mesmo parado não fazia nada, então resolvi tomar a iniciativa, fui ao ataque. De a volta no palco, cheguei à sua frente e tasquei lhe um beijo. Nem eu acreditava que estava fazendo aquilo. Beijei, a principio, não fui muito bem recebida/entendida, mas logo fui correspondida, senti o friozinho na barriga, tudo bem que não sei se era frio do beijo gostoso ou do episódio que eu estava vivendo, mas que foi uma mistura de quero mais com deixa eu sumir, foi. Daí me dei conta que tinha que deixar o palco, e a galera, percebendo que estava acontecendo começou a gritar”: “ beija, beija...”, e percebi o quanto eu estava envergonhada e num ato desesperador, sai correndo do palco. Busquei o lugar que ele não poderia entrar e fiquei lá por alguns minutos. De um lado para outro naquele toalete gelado e úmido, percebi que não poderia ficar ali para sempre e teria que assumir meu ato. Sai, e de volta a pista de dança, fui aclamada e recebi uma dedicatória do meu músico preferido, a música: “Pra você guarde o amor que nunca soube dar...”, precisa dizer o misto de vergonha com êxtase que estava sentindo? Fiquei ali paralisada, escutando a música e lembrando de como eu andava abusadinha. Logo era hora de ir embora, a casa fechava as 02h00minhs e eu trabalharia no outro dia. Ao término da música fui pagar minha comanda e sequer olhei para o lado, dei tchau aos meus amigos e fui embora, foi apenas um beijo, não tinha porque eu ficar ali dando uma de fã (eu acabara de conhecer a banda), e eu só queria era um beijo teatral mesmo. Subindo o morro da Lagoa, meu carro que há muito já estava problemático, resolveu parar, que ódio, tive que sair, abrir o capô e tentar decifrar o que o “bonitinho” tinha dessa vez, e lógico, minhas aptidões mecânicas não estavam tão evoluídas. Para meu espanto, logo estacionou um carro atrás de mim, já no acostamento e veio ao meu encontro, no inicio fiquei com medo, mas depois entendi o que eu estava acontecendo. Era um assalto, na verdade, um boicote, ou um assédio, não, assédio eu havia cometido...enfim, era o gatinho da banda (que eu nem sabia o nome), mas era ele, rindo no seu sorriso largo, maroto e inocente... Ele, junto com meus amigos (se é que posso chamá-los assim), decidiram que eu não iria para casa com meu carro, nem que eu trabalharia no outro dia, e assim foi, acabei decidindo o resto do meu domingo (sim, porque eles não tem poder para tanto), decidi que não iria para casa, nem para outra casa, mas sim, tomar um vinho e esperar o amanhecer da Praia da Joaquina escondida entre uma pedra e outra, evitando o vento leste sob a maciez de um edredom que nos aqueceria diante do clima outonal. Ah, e o edredom era bem macio.

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