Amor crônico
E quando você descobre que crônico não é mais somente tua vontade e ânsia de novas conquistas, mas de uma doença que arrebatadoramente começou a fazer parte de você.
Você sentia e sabia. Algo estava disforme do teu cotidiano. Mas agora, saber que restavam apenas alguns meses e que você era um número de estatísticas infectuosas nada otimistas, faziam de ti um causador desimportante em estar vivo, sua fé fora roubada e seus sonhos viraram pesadelos.
Saber que mesmo, com tantos coquetéis, tantos molotovs, você teria pelo resto dos dias da tua vida, agora (provavelmente encurtada), não mais fazer o que fazia do mesmo jeito. Você não poderia causar dor em quem amava.
Quando meu amigo recebeu a notícia de que sua doença era incurável e suas expectativas de vida eram baixas, seu mundo fincou-se em um buraco profundo, onde foi arremessado e ficou por lá por lá por um longo período, na verdade, parte do seu eu, continua por lá.
Só que o tempo passou. O tempo passou e ele continuara de olhos abertos, fazendo corações se debruçarem aos encantos do seu charme e elegância, batendo alucinadamente e implorando pela sua paixão. Foi então que ele entendeu, sua rotina mudara, mas seus desejos e devaneios continuaram ainda mais aflorados.
Descobriu que nada era maior ou mais forte que sua vontade de fazer coisas que ainda não fizera. Seus pulsos pulsavam na busca de um legado. E assim o fez, entendeu que no meio de um tropeço, descobriu-se mais amado, mais apaixonante, mais resistente e mais viril. Ele só não aceitou o desafio de vencer a cronicidade da doença, como, permitiu-se sair da sua zona de conforto diariamente. Ele começou a acreditar no quão poderosa era sua obstinação em viver.
E os poucos premeditados dias insalubres, viraram anos regados a coquetéis de drogas e receitas subversivas, conseguiu escrever e delinear um propósito lindo e dramático bem como sua vida vem se construindo. Sim, o drama faz parte da sua sagacidade. E hoje ele comanda um Império. Império pessoal e um Império público. Sua rotina e desconstruir-se diariamente, seja para buscar novas perspectivas no continente europeu, seja para viver um novo grande amor.
A cada dia se apaixona por alguém. A cada dia, odeia alguém. É meio tipo, tem que fazer muito para ver se me merece... tem um novo amor a cada semana. Tem sua rotina medicinal. Ele nunca será curado. Mas ele tem um guia protetor que o acompanha minuto a minuto e quando pensamos que dessa vez ele sucumbirá, ele volta mais feroz e mais voraz.
Costumo dizer que essas forças ressurgidas sempre tem um denominador comum, e no caso dele, certeza de que é um novo romance.
Um novo amor infinito com alguém vinte anos mais novo, que tem a sensibilidade de elevar seu ego e a cautela de fazê-lo ser único.
Que comece. E que dure o tempo necessário. Que seja tão crônico quanto a sua resignação.
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