DOMINGO

Odeio trabalhar aos domingos. Odeio. Porque trabalho? Porque preciso né. Toda mulher de trinta deveria poder escolher entre trabalhar ou não aos domingos, porque convenhamos, uma mulher de trinta tem outras coisas mais importantes para fazer num domingo, ou será que não? Será? Tenho sim. Mas o quê? Hum...ler àqueles livros que há décadas estão jogados na estante? Assistir aquela série que comprei no verão passado e ainda não tive tempo de assisti-la? Caminhar no parque? Ir ao Shopping? Limpar a casa? Finalizar os relatórios do trabalho? Não!!! Pelo amor de Deus, deve ter coisa mais interessante para eu fazer no auge dos meus trinta anos a não ser trabalhar ou qualquer destas sessões indefinidamente mal resolvidas na minha vida sedentária. Ou será melhor trabalhar mesmo?Domingo? Domingos? Sundays?
Sabe, mas tem uma vantagem de ter trabalhar aos domingos, existe uma folga no meio da semana, onde você pode ficar de pernas pro ar, comer o dia inteiro, dormir mais que a cama, passear, não pegar fila no cinema, não pegar fila no shopping, tudo sozinha, mas não deixa de ser uma vantagem, enquanto todos estão em seus postos de trabalho, você está “curtindo” sua folga, sozinha, mas curtindo, solitária, mas curtindo, só, mas curtindo...Não, não quero curtir sozinha, quero platéia, público, filas homéricas, reclamações, quero viver como uma pessoa normal que se dá o luxo de não trabalhar aos domingos. Pessoa normal? O que estou falando? Normal eu? Uma pessoa normal aceita convites para sair, e não prefere ficar em casa curtindo uma deprê com seus dois peixes, uma pessoa normal gosta de beijo na boca e carinhos e não fica inventando desculpas para não sair, uma pessoa normal fica feliz quando três gatinhos não param de ligar...uma pessoa normal, nem de longe sei ser.
Meu gerente também detesta trabalhar aos domingos. Eu queria que todos pudessem ter um gerente como eu tenho. Ele tem pavor de trabalhar aos domingos, mas ele me entende, me compreende... É raro ele trabalhar aos domingos, mas me apóia psicologicamente e de vez em quando me dá umas folgas que nem tenho direito, e eu acho o máximo, fico me achando...(risos). Eu gosto dele (mesmo porque ele é leitor dos meus textos). Gosto da leveza e da ironia com que trata os problemas, gosto de suas alternativas anti-regras, gosto da sutileza de seus puxões de orelhas, gosto da sua inabalável inteligência. E o que gosto mais ainda, é que ele faz o máximo para não fazer o que não gosta, e isso se aplica a não trabalhar aos domingos, e como ele mesmo diz... “-... Estou liberto...”, adoro essa sinceridade!!!
Não é porque você tem que fazer que você tem que gostar, não é porque é obrigado que não possa expor sua opinião, não é porque é regra que tem que ser cumprida. Claro, aqui entra a regrinha (embora deteste regras) do não concordo ou do não aceito, e filhinha, desculpe-me, mas se estiver no não aceito, é hora de puxar o barco.
Na verdade esse desabafo é só um desabafo, porque nada vai mudar a minha vida dominical, embora eu esteja na fase do não concordo, nunca deixei de expor minhas indignações e pertinências, e quando cito o exemplo do meu gerente, é só para dizer que quero ser como ele, tentar fazer o menos possível daquilo que não gosto. E te dizer companheira dos trinta, que tudo bem se você tem que trabalhar aos domingos, ou de madrugada, ou ainda, naquilo que você nunca imaginou trabalhar, mas nunca se esqueça de ser você mesma, de expor tuas idéias, tua opinião e jamais permita que alguém corte tuas asas. Até que tudo bem fazer o que não gosta, mas jamais perder a tua personalidade.
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