IDIOTA, MAS FELIZ

A vida toda, minha mãe tentou me educar para ser uma dona do lar, ou melhor, alguém que soubesse cuidar de uma casa como de fato ela sabe. Credo, só de pensar nesta possibilidade até os dedos dos meus pés se contorcem, como que eu, garota século XXI, ultramoderna, super fashion, extremamente feminista, que estuda alucinadamente, trabalha, escravizadamente, vai pensar em ser dona lar? Mamãe está louca!!! Não entra na minha cabeça coisas deste tipo, como que uma pessoa que dedica um terço da sua vida a literaturas (mesmo que inúteis), a noites acordadas emendadas ao dia com rostos babados em cima de livros de numerosas páginas, usando como ferramentas de trabalho café e coca-cola (cultivando e alimentando ainda mais minha gastrite), podem pensar em lavar, cozinhar, passar, arrumar, organizar, ar, ar, ar... impossível!!! Definitivamente esta vida não é para mim.
Não me permito e nem ouso sequer pensar nesta possibilidade, nasci para desbravar o mundo, conhecer novos lugares, países, pessoas, fazer milhões de amigos, casar, ter filhos (e óbvio, ter uma babá para cada um), e claro, de vez em quando chamar uma faxineira para dar aquela geral.
Porém, nem tudo o que rezo coloco fé, ou melhor, nem tudo acontece como imagino ou quero. Tempos atrás me peguei fazendo exatamente o contrário de tudo aquilo que preguei minha vida inteira de trinta anos (sim, porque não basta ter trinta, mas apaixonada, cega, burra, submissa, enfim, uma completa idiota) foi por água abaixo, quando aceitei em dividir meus 36 m² com meu ex-namorado. Claro que ao aceitar isso, a condição era (pelo menos na minha ingênua cabeça), que dividiríamos todas as funções domésticas e que ele seria um verdadeiro “dono do lar”, e que viveríamos felizes para sempre... doce ingenuidade e de uma bruta cegueira, tudo o que eu sempre preguei havia virado contra mim, e diariamente eu estava ali fazendo café da manhã, almoço, janta, lavando suas cuecas, esfregando, faxinando, levando o ao trabalho, buscando o, (porque eu tinha um carro), aliás, eu fazia de tudo, inclusive a realização completa da enorme agenda de uma dona de casa, ou seja, uma agenda praticamente igual á da minha mãe, a única diferença era o fato de não termos filhos. Talvez minha mãe não fosse tão louca quanto eu imaginava.
Hoje, depois de esta tentativa frustrada ter ido por água abaixo, e a cegueira ter deixado de existir na minha vida (sim porque agora uso óculos vermelhos), continuo defendendo a tese de que eu nunca serei dona de casa, mas aprendi a respeitar a opinião da minha mãe e suas sábias colocações sobre a vida de uma mulher, já que ela foi educada e criada para satisfazer as vontades de seu esposo e cuidar dedicadamente dos seus filhos, nada mais natural que ela queira repassar esses ensinamentos para sua prole. Desculpe - me mãe, mas não consigo!
E por mais que eu queira pensar que não, é muito comum, mesmo no mundo moderno isso acontecer, talvez não com tanta freqüência, já que o capitalismo está impregnado nas veias desta geração, mas vejo sim, pessoas que se dedicam a outras por completo, que se tornam e fazem parte do outro sem cobranças ou divisões, pois lhe é fato serem submissas aos seus amos, já que contra fatos não há argumentos.
Aprendi também a diferença de estar apaixonada ou não, aprendi que não é porque dividimos 36m² que tenho que ser ou não dona de casa, mas que fiz o que fiz porque isso alimentava minha alma e o simples fato de gostar, fazia do meu mundo cor de rosa, o impossível torna-se possível, a noite virava dia e vice e versa, as atitudes quando vem do coração, não importa o destino, porque o importante era fazê-lo feliz e me fazer feliz, e simplesmente, nada importava, mesmo que todos os meus amigos me chamassem de louca e não se cansassem em lembrar-me da minha antiga personalidade. O que importa companheiras dos trinta é ser feliz, mesmo que isso implique em mudar de opinião, de atitudes, de rotinas, mesmo que implique em me tornar uma completa idiota, mas o que vale são os bons momentos felizes, mesmo que poucos ou divididos em 36m².
É mãe, que saudades dos meus tempos de idiota!!!

Comentários

Unknown disse…
Ai guria...q delícia visitar esse teu blog!!to amandoooo tudo!!bjbj gigante do tamanho do Rio Grandeee!!
Aline disse…
Oi, Debora!!!
Adoreeeeeei as colocações... Nooooossa... esse teu blog é ddemais...!!!!
Bjocass

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