LONGE DE SER PRINCESA

LONGE DE SER PRINCESA

Sempre que penso que me superei algo novo acontece... Mesmo que eu não queira rir do meu próprio eu, pensar que agi normalmente, naturalmente, já que todos têm desejos estranhos enraizados em seu subconsciente... Não consigo... E mesmo que por alguns dias eu me iluda com a sensação de que fiz o certo, não demora muito para a dura e crua realidade abater-se sobre mim (aliás, neste caso, dura e crua cômica e trágica).
É queridas amigas do sexo frágil, amigas e companheiras das lastimáveis desculpas esfarrapadas que escutamos todos os dias daqueles que por pouco nos têm (melhor escutar do que ser surda, e vocês já vão entender porque), tem horas que a carência é tanta, que não tem santo que domine a fera adormecida quando ela resolve rebelar-se dentro de mim.
Ter trinta não significa apenas comemorar os trinta foras mais estúpidos que não me arrependi de ter levado, mas também comemorar outra das minhas façanhas que somadas podem chegar ao número de trinta ou vários trintas.
Para quem me conhece sabe que não pago para falar, falo mais que a boca, me meto em tudo, atrapalho conversas, finalizo frases, ou seja, a paciência não é uma das minhas virtudes, mas o que falar da paciente vez que beijei um deficiente auditivo? Pois é, pasmem, beijei, beijei, beijei e beijei! Beijei um surdo mudo!!! Aff, e gostei!!! O cara era lindo, do meu style (chique falar assim né), tinha uma boca carnuda, um corpo também carnudo, sabe, tinha onde pegar, uma presença de galã de novela, tipo Tarcísio Meira, umas mãos... E escrevia muito bem, mesmo porque diante de todas essas qualidades, óbvio que ninguém é perfeito e nada é de graça (e perdoe-me Deus), mas ele não escutava e nem falava.
Adoro desafios!!! Adoro!!!
Carência?Curiosidade? Penalidade? Até hoje confesso que não sei o que senti, mas devo admitir que foi o amor mais anormal que tive, sem palavras, sem queixas, sem reclamações, sem elogios também, pelo menos da forma mais habitual que um ser humano faz, a fala. Mas como para tudo na vida tem solução, ele sabia escrever e nosso maior companheiro dos inusitados encontros era um bloco de anotações. Escrevíamos, escrevíamos e escrevíamos, até que nossas mãos cansassem e suplicassem o aconchego da boca.
Não sei explicar ou definir, mas nos dias modernos, nossos relacionamentos são tão superficiais que mal ultrapassam a barreira de uma noite de prazer, hoje tudo; amanhã nada; uma hora caça; outro caçador, e foi esse surdo mudo que me fez lembrar dos meus 17, 18 anos, foi ele que realizou o que toda mulher apaixonada sonha (mesmo que eu não tivesse apaixonada por ele), mas na manhã seguinte estava no hall meu do prédio com um buque de flores vermelhas de perfume cítrico aconchegadas num bonito pacote de presente amarrado num vistoso laço vermelho (até minha cor preferida ele adivinhou, mesmo que o conteúdo – um livro de libras- não me fosse o presente mais desejado), mas o importante, o melhor de tudo, era que eu havia encontrado, depois de vários anos, um cara romântico. E não adianta me chamarem de cínica, contraditória, vulnerável, todas nós sonhamos com isso sim!!! Podemos negar até a morte, mas ninguém resiste aos encantos de um gentil cavalheiro ou ao gostinho de desfilar com um buquê para cima e para baixo, só para que os outros nos encham de perguntas ou morram de inveja (neste caso concordo com o exibicionismo, afinal não é todo dia que se ganha um buque de flores).
Mas como em todo conto de fadas sempre existe uma bruxa (e nesse caso a bruxa era eu), não há amor que resista a falta de palavras.
E mais uma vez deixei escorrer pelos dedos outro amor, sim outro amor, só porque enjoei da sensação, cansei do desafio e para variar, não tinha mais paciência com blocos de anotações. Definitivamente, amor sem palavras não era para mim.
Esse amor me fez voltar ao tempo de quando eu era menininha e acreditava no mundo dos sonhos, me fez bem enquanto durou, mas aí não demorou para a realidade chegar e eu perceber que, para esse tipo de conto de fadas, estou longe de ser princesa...
O mundo é assim, você vive procurando e quando acha percebe que não era exatamente o que você queria e manda embora.

Comentários

Unknown disse…
Fantástico!!! Adorei mesmo e concordo com tudo o que disseste. Eu tava torcendo por um final feliz, mas tudo bem é assim mesmo... Ta escrevendo bem prima...

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